Mentalidade de um povo fudido!

Vídeo mostra a triste realidade brasileira, onde glorificam e romantizam, trabalho infantil, trabalho pesado e subempregos!

 

Um leitor pediu para falar sobre a glorificação de trabalhar cedo, mas engraçado de tudo, parece que ele captou o meu pensamento, pois ia escrever sobre esse tema. Já conversei isso com alguns leitores, um era de Santos e o outro era da Vitória da Conquista, como no Brasil glorificam o emprego de merda. 

Lembrou-me da minha época da adolescência entre meus 15 e 16 anos, os meus amigos começaram a fazer pressão em mim, para trabalhar em subempregos, enquando eles estavam estudando para vestibular. Mandava trabalhar de empacotador de supermercado, atendente de padaria, vender refrigerante na praia, e assim por diante, enquando eles estavam aprendendo uma profissão e estudando para vestibular.

Não somente os meus amigos fizeram isso comigo, todo mundo olhava para minha cara (até mesmo pessoas desconhecidas) mandava trabalhar num emprego de merda! Deixei de ser chamado de Márcio, o meu nome era Vagabundo! Todos começaram a me chamar de vagabundo, porque não queria trabalhar no emprego de merda! 

A minha mãe, (e seus irmãos) teve uma infância pobre, então começou trabalhar ainda criança por necessidade, mas ela não tinha orgulho disso, pois tinha deixado trauma nela, então não queria que os seus filhos passagem por isso. Então, a minha mãe nunca deixou trabalhar no emprego de merda, e sempre me aconselhava para não trabalhar nisso. Com o tempo, as pessoas na rua, as amigas, conhecidos, etc, começaram a fazer a cabeça da minha mãe dizendo: "Corta tudo do Márcio, você está criando um vagabundo! Cortando tudo, ele vai criar vergonha na cara, e vai trabalhar!".

Infelizmente fizeram a cabeça da minha mãe, e ela começou a me sacanear, deixando até mesmo com fome. Ela começou a fazer pressão em mim para trabalhar em supermercado, vender refrigerante na praia, etc.  Fiquei alguns anos assim, depois ela se arrependeu o que fez comigo, pediu desculpas, e investiu nos meus estudos, da qual sou muito agradecido a ela. Minha mãe cometeu muitos erros, mas também cometeu muitos acertos, o que me deixou feliz, que ela reconheceu os seus erros e consertou.

Costumo falar que tive 2 mães, minha mãe Ondina, e a tia Corália, as 2 sempre falavam para não trabalhar no emprego de merda, dizendo como eram exploradas, seu trabalho não é reconhecido, os seus colegas sempre tentam queimar o seu filme, e assim por diante. Elas falavam com tristeza nos olhos, o que passaram na infância, por ter trabalhado cedo, e não tinham orgulho disso.

Mas, os amigos e a toda sociedade, não tiveram piedade comigo, sofri preconceitos terríveis, em que fiquei perturbado da cabeça, por excesso de cobranças das pessoas, queriam que eu trabalhasse em subemprego. As pessoas só faltavam bater na minha cara, diziam desaforos, hostilidade e ofensas gratuitas. Durante um tempo, tive que me isolar de todo mundo, porque as pessoas tinham perdido respeito por mim, por não trabalhar em subemprego.

As pessoas falam que na Índia existe um sistema de casta, mas no Brasil também existe um sistema de casta disfarçado, que ninguém percebe isso. No Brasil quando filho de rico fala que vai estudar para ser médico, advogado, engenheiro, todo mundo bate palmas, e dão apoio para ele, mas quando o pobre fala que quer estudar para ser alguém na vida, existe uma pressão contra ele, dizendo "Você têm de trabalhar!", "Você não serve para estudos!".

Quando o filho do rico fala que vai fazer concurso público para cargos importantes todos dão apoio e admira, mas quando é pobre, esculacha o cara, manda fazer concurso público para gari. Para o pobre nunca falam para fazer concurso para OAB, tribunal de contas, Caixa Econômica Federal, etc, mas sim, sempre manda fazer concurso público para gari.

Já vi muitas pessoas se orgulharem dizendo que começou trabalhar ainda na infância, mas suas vidas foram uma merda, não evoluíram nada, teve uma vida totalmente sofrida, e querem que todos passam a mesma coisa, que eles passaram. Seria uma espécie de "vingança inconsciente coletiva", em que eles querem que você passa, a mesma coisa que eles passaram.

Na faculdade quando você é pobre, é totalmente excluído, já nos estudos universitários, outros alunos fazem pressões sutis, para você desistir do curso, para não haver concorrentes. Quando o pobre se forma na faculdade, grande número de pessoas vão odiá-lo, falo isso, porque aconteceu comigo, pois quando me formei em jornalismo, muitos passaram a me odiar, por causa disso.

Vejo pião de obra levando sacos de pedra, quebrando concreto, levantado parede de tijolos, acorda as 3 da manhã, pega ônibus lotado, come 1 vez por dia, chega tarde da noite, não tira férias, etc, e o infeliz tem orgulho disso, e quando chegar aos 40 anos de idade, terá sérios problemas de saúde, problemas nos ossos e articulações, problemas respiratórios, etc.

Peguei raiva de trabalhador, que se orgulha de trabalhar num emprego desses, mas se ele falar assim: "Odeio o meu trabalho, trabalho nisso, porque não tenho outra coisa melhor!", até entendo o cara, e vou respeitá-lo, por causa disso. Ele esta nisso, não porque gosta, mas sim, por necessidade, nesse caso, entendo o caso dele.

Na década 90,  li a revista Raça, especializada em falar sobre as questões dos negros, achei interessante essa matéria, que falava justamente isso, que os negros colocavam os seus filhos para trabalharem cedo, para falar que não tinha filho vagabundo, enquando o filho do rico estudava e ninguém falava nada. Que o filho do pobre trabalhava ainda criança, e morria em subemprego, em que passou a vida inteira sendo explorado pelos ricos.

Uma vez na sala de aula, onde estudava jornalismo, falou sobre esse assunto sobre trabalhar na infância, então tinha lembrado dessa matéria da revista Raça, e falei que o pobre não vai para frente na vida, porque os pais obrigam os filhos trabalharem na infância, enquando o filho do rico estuda para ser alguém na vida. A sala toda veio em cima de mim com maior fúria (não estou exagerando), dizendo que o filho do pobre tem de trabalhar cedo, para não criar filho vagabundo, que o filho do rico não precisa trabalhar!

Quando a minha mãe faleceu, tinha ficado totalmente sem dinheiro, então fui trabalhar no supermercado. Trabalhei somente 10 dias, foi pior experiência na minha vida, vocês não imaginam como os funcionários são explorados e humilhados, pelos gerentes e o dono do estabelecimento. Hoje em dia, quando entro no supermercado, sei perfeitamente o que eles passam lá dentro, passam por séries de humilhações, que vocês não podem imaginar. A minha sorte, que tinha saído o seguro de vida, que a minha mãe tinha deixado para mim, em que possibilitou o meu sustento por alguns anos.

Lembro de um jovem negro de 18 anos, que estava trabalhando de faxineiro no supermercado, ele chegou para mim e disse: "Márcio, a minha mãe é costureira, ela não quer que eu trabalhe nisso, ela manda eu estudar, que me ajudaria nos estudos! Mas, as pessoas fazem pressões para eu trabalhar!". Ele estava trabalhando de faxineiro, por pressões das pessoas, então disse para ele: "Se a sua mãe propôs pagar os seus estudos, então aproveita essa oportunidade, vai estudar! Isso que eles querem! Eles querem ver você fudido, lavar a privada deles, varrer o chão, limpar o estabelecimento, servir cafezinho, etc. Entra por cotas, foda-se as pessoas que são contra as cotas, sai dessa merda, e vai estudar!". Engraçado que ele seguiu o meu conselho!

Trabalho como fotógrafo, faço fotos de casamentos, batizados, formaturas, etc, mas com problema do lockdown, tudo ficou fechado, não podendo trabalhar com eventos. Desesperado fui trabalhar de estoquista, esse trabalhei por 1 ano, foi a maior merda. Lembro-me quando fui fazer exame de saúde, a atendente chamou o meu nome, fui em direção dela, e ela fala alto e bom som, "Seu cargo é de faxineiro!", "Você vai trabalhar na faxina!", percebi que ela falou isso alto, na frente de todos, na intenção de esculachar.

Dizeram para mim, que a vaga era para estoquista, mas era para auxiliar de serviços gerais, uma forma bonitinha para dizer faxineiro. Como fui humilhado naquela merda, formado em jornalismo e história, vários cursos de extensão, conhecimento em vários ramos da ciência e tecnologia, ouvindo merda de pessoas analfabetas, faveladas, sem nenhum futuro na vida, que vão morrer naquela merda. Sentia-me uma verdadeira merda ambulante, sem moral, desvalorizado, baixo autoestima e sem rumo na vida.

Falava merda para mim dizendo "O playboyzinho da zona sul, agora é faxineiro da loja! Mamãe morreu, acabou a vida boa!", desrespeitaram até mesmo a minha falecida mãe. Único momento digno que tinha, era na hora do almoço, gastava todo o meu salário no restaurante, onde comia uma excelente comida! Vocês acreditam que todo mundo ficava com raiva de mim, porque comia no restaurante? Eles falavam na minha cara, que deveria comer quentinha de 10 reais, que continha arroz, feijao, farofa, macarrao e um pedacinho de carne. Eles implicavam comigo, porque comia no restaurante, e sofri por causa disso. 

Um vez vi no Facebook, uma adolescente grávida, com maior barrigão, trabalhando fazendo entregas de bicicleta, e a pior parte foi dos comentários, "Isso aí, você é uma guerreira!", "Mostra a sua força de mulher!", coisas desse tipo. Como podem glorificar e romantizar, uma grávida fazer entrega de bicicleta, arriscando a vida dela e do bebê? Mesma coisa, quando vi um deficiente sem as 2 pernas trabalhando de cadeira de rodas, debaixo do sol forte, todos estavam elogiando, o que ele estava fazendo. Ele é deficiente, deveria ter proteção do governo, e não ficar se fudendo nas ruas!

Quando você escapa disso, terá uma sociedade inteira para te odiar, um ódio irracional, que não tem explicação. A sociedade tem ódio das pessoas que não trabalham, todos te odeiam, pelo simples fato de não trabalhar no emprego de merda! A sua familia te odeia! O pastor te odeia! O padre te odeia! Sua namorada te odeia! Todos sem excessão te odeia, pelo simples fato de não trabalhar. Eles queriam te ver, se fudendo na vida, ganhando salário mínimo, acordar cedo e chegar tarde da noite em casa, comer mal, e assim por diante. Quem escapa disso, todos vão te odiar! Esses trabalhos não são dignos, só se for dignos de pena!

Que todos possam sentir bem e felizes!

Márcio de Andrade

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